terça-feira, 17 de abril de 2012

Ficção Científica em Santa Catarina?

Maicon Tenfen, meu amigo e colunista do Diário Catarinense, escritor de mão cheia com vários títulos de sucesso em Santa Catarina, honrou-me com esta crônica no dia 10 deste mês. Obrigado, Maicon!

Ficção Científica em Santa Catarina?

A ficção científica é um dos gêneros mais fascinantes da — para usarmos um termo de Adorno, o ranzinza — Indústria Cultural. Embora tenha suas origens num clássico como Frankenstein (1818), de Mary Shelley, popularizou-se na primeira metade do século 20 através das pulp magazines, aquelas revistinhas fuleiras impressas em papel barato e vendidas por centavos nas bancas de jornal.
Com o tempo, como ocorreu com outros gêneros considerados menores, a ficção científica conquistou o direito de sair em capa dura e atrair a atenção de uma crítica mais descolada e interessada em releituras, revisionismos e dialogias textuais.
De umas décadas para cá, graças também à ação persuasiva do cinema, a sci-fi (como nomeada pelas novas gerações) goza de popularidade crescente ao redor do globo. Filmes baseados em obras de Isaac Assimov, Robert Heinlein e principalmente Philip K. Dick, três dos papas do gênero, tornam-se cada vez mais assíduos nos downloads piratas dos adolescentes.
Ainda que a maioria dos autores e leitores de ficção científica estejam no mundo anglófilo, o gênero é tão atraente e significativo, tão cheio de possibilidades temáticas e sociais, que facilmente se espalhou por todas as culturas e continentes. Procure nas literaturas eslavas, orientais, nórdicas ou africanas. Ninguém deixará de encontrar escritores genuinamente partidários dos temas futurísticos e tecnológicos.
Vai daí, surgem duas perguntas que não querem calar. Existe ficção científica no Brasil? E em Santa Catarina, existe?
Para a primeira pergunta, uma resposta surpreendente: o cultivo da ficção científica praticamente se confunde com a história da literatura brasileira. Não se trata de exagero. Joaquim Manuel de Macedo, autor de A Moreninha (1844), escreveu textos que podem ser tranquilamente considerados ficção científica. Machado de Assis, João do Rio e Rachel de Queiroz, também.
Se alguém duvida da onipresença do gênero em terras tupiniquins, sugiro um livro chamado Ficção científica: mitos culturais e nacionalidade no país do futuro (São Paulo: Devir, 2005), da pesquisadora americana M. Elizabeth Ginway (é mesmo típico que estrangeiros venham nos lembrar das riquezas que possuímos!). Se o leitor se surpreender com a abrangência e a fecundidade dos nossos autores, também se espantará com a marginalidade em que viveram por cultivar uma literatura tão periférica.
Quanto à segunda pergunta, sobre Santa Catarina, só posso providenciar uma resposta óbvia: se o próprio Guido Wilmar Sassi escreveu sobre porvires alternativos, é claro que existe ficção científica entre nós. Dos autores atuais, nenhum me parece mais profícuo e dedicado que o blumenauense Roberto C. Belli, que pratica o gênero desde os longínquos anos 1980, quando venceu um concurso de contos com uma história sobre viagens espaciais.
Hoje à noite (10), na Universidade de Blumenau, Belli fará uma palestra sobre ficção científica e, na quinta da semana que vem (19), lançará Farol do Espaço Profundo, antologia cujo título já evidencia o teor dos contos e novelas reunidos no volume. O autor também se dedica ao estudo e à divulgação da ficção científica como fenômeno cultural. No prelo, possui o didático Ficção científica: um gênero para a ciência, a sair ainda em 2012 pela Edifurb.
Tanto aos que amam a ficção científica quanto aos que ainda não tiveram oportunidade de descobri-la, Roberto C. Belli é um autor que recomendo sem medo de errar.

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